Os 15 países-membros do Conselho de Segurança da ONU se reúnem nesta quarta-feira para analisar a situação política no Sudão.
Desde abril de 2023, a nação africana atravessa um conflito entre tropas do governo e paramilitares das Forças de Apoio Rápido, RSF na sigla em inglês.
Escalada ameaça estabilidade regional
Nesta quarta-feira, intensos combates no campo de Zamzam, em Darfur do Norte, forçaram o Programa Mundial de Alimentos, WFP, a interromper temporariamente a distribuição de comida.
No início desta semana, o secretário-geral da ONU, António Guterres, emitiu uma nota sobre o anúncio dos paramilitares, simpatizantes e grupos armados de criar uma carta política com a intenção de estabelecer uma “autoridade governamental”, em áreas controladas pela RSF.
Segundo Guterres, a escalada do conflito no Sudão aprofunda a fragmentação do país e os riscos de agravamento da crise. O secretário-geral acredita que a preservação da unidade do Sudão, de sua soberania e integridade territorial permanece sendo um fator chave para uma resolução sustentável do conflito.
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Divisão entre sudaneses é “indesejável”
O enviado especial de Guterres ao Sudão, Ramtane Lamamra, está em contato com os lados em guerra e partes interessadas para se alcançar o fim da violência. Ele realiza uma reunião a portas fechadas com os membros do Conselho antes da sessão pública.
Em entrevista para a ONU News Árabe, Lamamra advertiu que qualquer coisa que aumente a distância entre os sudaneses em vez de os unir é “indesejável”.
Para o enviado especial, o compromisso da comunidade internacional para resolver a crise no Sudão exige um “uma compreensão profunda” da situação, incluindo as raízes do conflito, sua história, dimensões, aqueles que influenciam os confrontos, intervenções estrangeiras e outros fatores.
Lamamra pediu que os sudaneses atentem para lições passadas e disse que esforços contínuos para “alcançar uma solução devem ocorrer com respeito pela soberania, independência e unidade do povo e das terras” do Sudão.
Mulheres, crianças e homens pagam alto preço
Guterres também condenou a violência constante contra civis em todo o país, que está sendo praticada por ambos os lados do conflito. As agressões incluem ataques motivados por questões étnicas. Mulheres, crianças e homens sudaneses estão pagando o preço da continuação dos combates.
Já a diretora de Operações e Advocacia do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, lembrou aos membros do Conselho as dimensões humanitárias da crise.
Edem Wosornu citou o deslocamento de mais de 12 milhões de pessoas, incluindo 3,4 milhões que fugiram pelas fronteiras do Sudão, e o sofrimento de mais da metade do país, 24,6 milhões de pessoas, devido à fome aguda.
Ela também observou que, no sul do país, há relatos de combates se espalhando para novas áreas em Cordofão do Norte e Cordofão do Sul, representando mais riscos para os civis e complicando o movimento de trabalhadores humanitários e suprimentos.
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ONU tenta vacinar 1 milhão contra cólera
A guerra no Sudão agravou a situação de instalações de saúde, que estão sendo alvos de ataques. O risco de surtos permanece alto como prova o aumento dos casos de cólera no Estado do Nilo Branco. Já são mais de 1,6 mil notificações e 63 mortes.
Somente no domingo, foram registrados 289 casos de cólera e cinco mortes.
As agências da ONU esperam levar vacinas a mais de 1 milhão de pessoas para conter o surto.
O enviado especial do secretário-geral ao Sudão deve participar da reunião do Conselho de Segurança nesta quarta-feira.