Neste 25 de maio, o mundo celebra pela primeira vez o Dia Mundial do Futebol.
A data foi estabelecida pela Assembleia Geral da ONU, no ano passado, em reconhecimento ao papel que o esporte tem na construção de um mundo mais pacífico e inclusivo.
“O futebol é uma língua que todo mundo entende”, diz Julia Pimenta da Street Child United
Um esporte que quebra barreiras
Para explorar esse potencial do futebol, a organização Street Child United criou a Copa do Mundo das Crianças de Rua. O evento reúne menores em situação de vulnerabilidade para praticar o esporte na mesma cidade ou continente onde acontece a Copa do Mundo oficial.
A diretora de impacto da organização, Julia Pimenta, conversou com a ONU News, em Nova Iorque. Para ela, o futebol quebra barreiras entres povos e classes sociais e favorece diálogos sobre a garantia dos direitos das crianças.
“O futebol é uma língua. É como se fosse uma língua. Todo mundo entende o futebol. É muito fácil aproximar tomadores de decisões, quando você faz um evento e convida eles para assistir futebol e depois a gente pode falar sobre direitos de crianças. E é muito fácil de engajar as crianças, porque a primeira coisa que eu faço, por exemplo, quando eu vou visitar um projeto social, é jogar futebol com as crianças, porque isso coloca a gente no mesmo nível. A gente começa a se ver como pessoas parecidas, você não é mais um estranho, você é só mais uma pessoa ali jogando futebol com ela. Isso quebra a barreira. O futebol consegue fazer isso, seja jogando, seja assistindo, seja torcendo para a mesma equipe”.
Heróis e heroínas nacionais
A Street Child United atua com base na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança. Os jovens atletas participam de oficinas sobre o tema e ao final da competição escrevem mensagens para os governos sobre as barreiras que sofrem por viverem na rua.
Julia Pimenta relata que as crianças que participam, vivenciam um ambiente de muita festa e alegria, e desenvolvem laços de amizade apesar das barreiras linguísticas. Elas também se sentem valorizadas por representarem seus respectivos países na competição.
“A gente fala que é a Copa do Mundo que importa. Essas crianças, muitas delas nunca deixaram a cidade delas. Elas nunca pegaram um avião. Elas nunca saíram do país delas. Elas nunca tiveram uma oportunidade dessa. Então a gente as trata como elas merecem ser tratadas. Quando elas estão no nosso evento, elas são os nossos atletas. Então elas são os heróis nacionais, as heroínas nacionais”.
Luta contra a invisibilidade
A diretora explica que a organização criada em 2010, após a Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, busca ser uma plataforma que “dá voz para as demandas dessas crianças”.
Os quatro principais pilares de atuação consistem em garantir registro de nascimento, proteção contra a violência, acesso à educação e igualdade de gênero.
Julia Pimenta destacou que muitas crianças que vivem nas ruas não têm certidão de nascimento e com isso se tornam ainda mais excluídas. A Street Child United criou uma campanha para garantir um milhão e um registros até a próxima Copa do Mundo, que será em 2026, nos Estados Unidos.
Ela enfatizou a importância que um documento de registro tem para esses menores.
“Pela primeira vez, você deixa de ser invisível. O seu governo começa a fazer censos, você conta. Então tem um impacto emocional, psicológico na própria criança de ela saber que ela existe”.
A organização Street Child United criou a Copa do Mundo das Crianças de Rua
Foco na igualdade de gênero
Sobre o pilar da igualdade de gênero, a especialista ressaltou que diversos estudos da ONU apontam que a chance de meninas abandonarem o esporte aos 14 anos é até seis vezes maior que a dos meninos.
Os fatores que fazem com que elas desistam do futebol envolvem desde questões fisiológicas relacionadas à puberdade, até desafios ligados à segurança.
Julia Pimenta revelou que a próxima grande campanha do Street Child United vai ser sobre igualdade de gênero, um tema que a organização pretende reforçar já na Copa do Mundo de Futebol, em 2026, que será realizada nos Estados Unidos, no Canadá e no México, mas também na competição feminina em 2027.
Para as Nações Unidas, o Dia Mundial ajuda ainda a avançar com a igualdade de gênero e a dar autonomia a mulheres dentro e fora do campo.
A Assembleia Geral da ONU celebrou a data de forma antecipada na quinta-feira. O evento foi coorganizado pelas Missões de Bahrain, Líbia e Tadjiquistão.
Adicionar comentário