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Internacional

Guterres cita obstáculos chocantes na retomada da distribuição de ajuda em Gaza

Nos últimos dias, quase 400 caminhões foram liberados para entrar em Gaza pela passagem de Kerem Shalom, mas somente 115 conseguiram concluir a entrega dos suprimentos.

Nesta sexta-feira, o secretário-geral da ONU disse a jornalistas, em Nova Iorque, que a organização conseguiu distribuir um pouco de farinha de trigo, comida para bebês, suplementos nutricionais e medicamentos, o que ainda não atende a todos.

Uma criança colocando uma panela na cabeça para se proteger do sol enquanto espera para conseguir comida

Uma criança colocando uma panela na cabeça para se proteger do sol enquanto espera para conseguir comida

Restrições e proibições dificultam entrada de ajuda

António Guterres ressaltou que toda a ajuda autorizada, após um período de 80 dias de bloqueio total, “equivale a uma colher de chá”, num momento em que uma “enxurrada de assistência é necessária”.

Ele explicou que são impostas cotas rigorosas e existem “atrasos desnecessários”. Para Guterres, os “obstáculos são chocantes” frente às enormes necessidades.

Itens essenciais como combustível, abrigo, gás de cozinha e kits de purificação de água ainda estão proibidos. Além disso, nenhuma ajuda chegou ao norte do território, que está sob cerco.

O líder da ONU disse que existem suprimentos suficientes para abastecer 9 mil caminhões. Ele pediu a Israel que garanta a segurança dos comboios, em um contexto de desespero da população e alto risco de saque.

Trabalhadores descarregam caminhões do WFP entregam sacos de farinha para as padarias Al-Banna em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza

Trabalhadores descarregam caminhões do WFP entregam sacos de farinha para as padarias Al-Banna em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza

“A fase mais cruel de um conflito cruel”

Segundo Guterres, os palestinos estão passando pelo que talvez seja “a fase mais cruel de um conflito cruel”. Além dos efeitos do bloqueio da ajuda humanitária, a população sofre com a intensificação da ofensiva militar israelense, que está causando “níveis atrozes de morte e destruição”.

O secretário-geral lembrou que Israel tem obrigações claras sob o direito internacional humanitário de tratar civis com respeito e dignidade.

Sem acesso rápido, confiável, seguro e sustentado à ajuda, mais pessoas morrerão e as consequências a longo prazo para toda a população serão profundas.

Guterres disse que a ONU não participará de nenhum esquema que desrespeite o direito internacional e os princípios humanitários de humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade.

Saques de caminhões que transportavam trigo

Em meio ao aumento da fome em Gaza, 15 caminhões do Programa Mundial de Alimentos, WFP na sigla em inglês, foram saqueados na noite de quinta-feira, a caminho de padarias apoiadas pela agência.

Os veículos transportavam comida para pessoas famintas à espera de auxílio.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, o WFP afirmou que “a fome, o desespero e a ansiedade levaram ao aumento da insegurança”, uma vez que não se sabe se haverá mais comida para alimentar todos. A passagem de toda a ajuda humanitária ainda é incerta.

Algumas padarias já estão em funcionamento no sul e no centro de Gaza, mas ainda não é o suficiente para impedir o avanço da fome.

A agência pediu às autoridades israelenses para enviar volumes muito maiores de assistência alimentar de forma mais rápida, consistente e transportada por rotas mais seguras, como ocorreu quando havia o cessar-fogo.

Trabalhadores embalam pão fresco em sacos para distribuição na padaria Al-Banna em Deir al-Balah, Gaza

Trabalhadores embalam pão fresco em sacos para distribuição na padaria Al-Banna em Deir al-Balah, Gaza

Distribuição de cestas básicas continua proibida

O WFP considera que não pode operar com segurança sob um sistema de distribuição que limita o número de padarias e locais onde a população de Gaza pode ter acesso a alimentos.

A agência também quer permissão para distribuir farinha de trigo e pacotes de alimentos diretamente às famílias, tendo em vista que essa é a forma mais eficaz de evitar a fome generalizada. No momento, a distribuição de cestas básicas continua proibida.

Mais de 130 mil toneladas de alimentos, que podem atender toda a população por dois meses, estão preposicionadas nas fronteiras para entrega imediata.

O WFP pede que Israel garanta um fluxo mais rápido de permissões e aprovações para permitir a ampliação da assistência.

81% do território sob controle militar

De acordo com o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, 81% do território de Gaza está dentro de zonas militarizadas israelenses ou sob ordens de deslocamento. Mais de 160 mil pessoas tiveram que se deslocar na semana passada.

Elas estão fugindo para salvar suas vidas em meio a bombardeios intensos e não tem um lugar seguro para buscar abrigo ou suprimentos.

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